quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

LAREIRA DA ALDEIA -TERRENHO

A minha Lareira do Terrenho e as duas panelas de ferro, uma era da minha avó materna, PALMIRA e a outra da minha avó paterna, Adozinda









Hoje em dia já não há serões à lareira nem o contar de histórias mágicas, lendas e narrativas dos mais velhos aos mais novos.
As casas modernas são avessas a fumo, as lareiras são demasiado pequenas, muito decorativas e pouco funcionais e defronte não há lugar para uma roda onde caibam avós, filhos e netos.
Os netos estão entretidos com a televisão, com o computador e consolas de jogos.
Os avós, raramente coabitam com os filhos e netos. Quando muito vivem sozinhos ou  num lar de idosos.
Noutros tempos, quando a eletricidade ainda não chegava à maioria das aldeias, ou se chegava, não entrava em todas as habitações, as grandes lareiras eram frequentes nas casas, mesmo nas mais pobres e depois de acabados os trabalhos no campo, para ajudar a matar as longas noites de Inverno, aconteciam os serões, com os mais velhos, de modo especial os avós, a contarem aos netos coisas do seu tempo, histórias ligadas ao campo, aos animais, velhas narrativas e contos sobre outros tempos, pessoas e lugares.

Enquanto isso, à luz da fogueira ou do candeeiro a petróleo, as mulheres entretinham-se a fiar ou a remendar a roupa.

Assim, nas longas noites de Inverno, depois da ceia (jantar), por vezes com a chuva e o vento a fustigarem impiedosos a noite, toda a família reunia-se ao redor da fogueira, onde crepitavam grandes tocos (lenha proveniente das cepas das árvores, conseguidas com muita força na picareta e no machado). Assim, depois da habitual reza do Terço, onde os mais novos não resistiam à lengalenga e “passavam pelas brasas”, logo depois começava a parte melhor, com a 
avó a contar das suas. Umas vezes sobre coisas vulgares, outras, porém, histórias fantásticas, que até metiam bruxas e espíritos, vagueando por casas e caminhos assombrados. Nessas alturas, escusado será dizer que, para além do fascínio do enredo, “a mais grossa era como azeite”, isto é, ficávamos assustados e depois da entrada na cama, permanecíamos debaixo dos cobertores a arfar de calor e de medo.
Mas, apesar disso, quase sempre ficávamos (eu, os meus irmãos chegados ) fascinados por tantas histórias. Muitas delas ficaram marcadas nas nossas cabecitas até aos dias de hoje.

Para além do mais, apesar de não ser presença nesses serões, recordo-me sobretudo da minha avó materna, a qual habitualmente, enquanto a minha mãe trabalhava na lida do campo, tomava conta de mim e de meus dois irmãos mais chegados. Essa fase ocorreu entre os meus dois a sete anitos. Depois, com essa idade, o pouco tempo que sobrava da escola era investido a ajudar os pais na casa e no campo, incluindo o tomar conta dos irmãos mais novos, ou dos animais.
Essa minha avó tinha de facto o condão de contar. Histórias, contos, lendas, etc. Para além do mais era um repositório vivo de sabedoria dos velhos usos e costumes. 

Como se isso não bastasse, era tambem procurada na aldeia para “talhar” (reza que supostamente curava) alguns males, como o tesourelho, ou tresorelho (papeira), as bexigas, o sarampo, as aftas e outras maleitas incluindo o “mau-olhado”.
Tantas vezes assisti (e fui alvo) dessas rezas, desses “talhamentos”, mas era demasiado pequeno para me interessar pela sua recolha. 
Apesar de tudo, alguém na família conseguiu preservar algumas rezas. Por exemplo, contra o “mau-olhado”, que tanto se aplicava a pessoas como a animais, sobretudo gado.
Colocava-se a mão direita, empunhando um terço benzido, contra a testa da pessoa ou do animal e rezava-se:
Esse ar que te deu, quem to daria,
Que não fosse por maldade,
Que não fosse por vingança?
Talha-to por  Deus e pela Virgem Maria,
Em quem porás toda a esp´rança,
E p´las Três Pessoas da Santíssima Trindade.
Assim como elas querem e podem,
Ao toque do nosso sino (da igreja da aldeia),
Pelo Seu Poder Divino,
De onde este mal veio depressa lá retorne.
- Reza-se uma Ave-Maria.
Repete-se sete vezes, intervalando com o Sinal da Cruz sobre a fronte do “talhado”.
Esta reza deve ser feita durante sete dias consecutivos, de preferência antes do toque das Ave-Marias, entoado pelo sino da igreja da aldeia.


 http://santa-nostalgia.blogspot.fr


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Provérbios Populares


Quando não chove em Fevereiro, nem bom centeio nem bom lameiro

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Licença Anual para Uso de Isqueiro

Em Portugal, entre Novembro de 1937 e 1970, qualquer cidadão que usasse um isqueiro para acender o tabaco tinha que ter uma licença.





Clic na foto


Veja-se esta “Licença Anual para Uso de Acendedores e Isqueiro”, que diz:

“É proibido o uso ou simples detenção de acendedores ou isqueiros que estejam em condições de funcionar quando os seus portadores não se achem munidos da licença fiscal.
Os infractores serão punidos com a multa de 250$00 além da perda dos acendedores ou isqueiros, que serão apreendidos, salvo as excepções reguladas pelo respectivo decreto-lei.
"Se o delinquente for funcionário do Estado, civil ou militar, ou dos corpos administrativos, a multa será elevada ao dobro e o facto comunicado à entidade que sobre ele tiver competência disciplinar".
Das multas pertencerão 70 por cento ao Estado e 30 por cento ao autuante ou participante.
Havendo denunciante, pertencerá a este metade da parte que compete ao autuante.
Outras disposições consultar os respectivos decretos”.

Jà naqueles tempos os cigarros  "queimavam"



Uma licença de utilização, passada pelas Finanças, todos os anos, nada barata e, para cúmulo, era passada nominalmente. Ou seja, um isqueiro não podia ser utilizado por outra pessoa que não aquela cujo nome estava na licença. E para controlar a sua utilização havia a polícia e uma caricata “profissão” denominada de “fiscal de isqueiros” que, em caso de prevaricação, aplicavam uma multa e apreendiam o isqueiro.






Dado que a imagem não é suficientemente nítida, reproduzo o texto da “Licença Anual Para Uso de Acendedores e Isqueiros” em que gostaria de chamar a vossa atenção para uma palavra lá existente:  delinquente. Nem mais!





Para quem não sabia ou já não se lembrava, aqui está a memória não muito longínqua de uma prática existente no nosso país. De repressão, sim, mas também de caça a mais um imposto.





Livro de Leitura da 4ª Classe 1940 ?


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Livro de Leitura da 4ª Classe – Ulysses Machado



A edição não tem qualquer referência quanto à data, mas porque faz referência a uma passagem do Diário do Governo de 21/03/1932, julgo ser do final dos anos 30, princípios de 40.


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(fonte: Biblioteca Nacional)